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Sunday, November 02, 2003

Foz do Arelho

Mal ressurgiu o sol e clareou o dia, ao longe já se vê o velho intemporal palmilhando a praia da Foz do Arelho, com o seu inconfundível “Bolo fresquinho”. Ele parece ser parte da praia, dando a sensação de que não existiria esta praia sem ela, pois os seus pés quase que conhecem cada grão de areia existente. As estórias que ele sabe, aquele ser de bata branca, incansável na sua rotina diária. O Verão ainda não começou e ele já voltou à sua velha lide, com os seus pés descalços e calejados.
Quantas bolas de berlim e outros bolos já vendeu? Quantos quilómetros já andou, por este areal que se perde de vista? Quantas vezes teve de se calar e apenas observar, com um ar triste e resignado, as vozes esganiçadas e ridículas de adolescentes ignóbeis e mimadas, incapazes de observar o horizonte fora dos limites dos seus próprios umbigos? Em quantas dunas já repousaste para te libertares do cansaço que teimosamente não queres demonstrar? Como te chamas, aquele que percorre sozinho a praia vendendo bolos? Quantos anos terá? Poucos são aqueles que quereram saber e menos ainda os que se indagarão. Eu não sei, mas questiono. Que estórias me contaria ele? De que sabedoria popular encheria os meus ouvidos por horas intermináveis que passariam como se fossem segundos apenas? Falaria de todas as pessoas desta praia que já lhe compraram os bolos, de que ele nem sabe o nome, mas guarda na memória todos os seus rostos? Contar-me-ia estórias de sereias, os seus sonhos desperdiçados numa juventude rebelde ou apenas o cansaço de alguém simplesmente humano?
Este não é o momento de pensar nisso, estou cansado. Quero sonhar. Conta-me mais estórias.


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