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Sunday, November 30, 2003

O Homem da Conspiração


Cada vez que vejo na Sic Radical, o anúncio do Homem da Conspiração, sinto uma irritação. Acho que são os piores cinco minutos que vão para o ar. O script não tem piada nenhuma, nem nexo e não se percebe como Nuno Markl dá a cara a tão triste programa, um programa que podia ser bom, se fosse influenciado por programas como a Contra-Informação ou o Daily Show. A questão que pergunto é: Como é possível continuar com este programa?
Já agora, em termos de irritação, relembro o anúncio da Playstation 2, em que uma garota está a cantar: “Oh, get on board!”. Depois de um anúncio brilhante, em que um bebé saía da barriga de sua mãe e ia envelhecendo rapidamente até cair na cova, para este, é definitivamente um passo atrás.
Mas nem tudo é mau neste canal, que tem séries muito boas, mas neste momento, as que mais aprecio são definitivamente séries bem pensadas e interpretadas: as regressadas Babylon 5 e Twin Peaks.

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Saturday, November 29, 2003

Messias


No estúdio, o Notícias da Noite ia já no seu términus, faltando apenas uma última entrevista a uma pessoa que se dizia a reencarnação de Jesus Cristo. O director-geral do canal de televisão pediu ao pivot para provar inequivocamente de que o homem era uma fraude. Assim, começou então esta entrevista para Eduardo, jornalista experiente, pois já apresentava o Notícias da Noite há dois anos.
- Boa noite, senhor… Nem sei bem como tratá-lo…
- Pode tratar-me por Jesus Cristo, afinal esse era o meu nome original.
- Pois, mas não me diga que não um nome desta sua “reencarnação”. – responde Eduardo, com um ar de irónica gozação.
- Tenho sim, mas prefiro não divulgá-lo, como há-de compreender.
- Pois bem, o senhor é casado?
- Não, sou divorciado.
- Então, como reencarnação de Jesus, não previu que ela não era a mulher indicada para si? – enquanto diz isso, Eduardo mal consegue disfarçar uma pequena risada, ele está muito auto-confiante de si e acha-se o melhor, as sondagens que aparecem sobre quem é o melhor pivot de telejornais assim o indicam também.
- Para dizer a verdade, foi depois de descobrir a minha origem, que me divorciei. Eu simplesmente não a podia pôr em perigo, nem a ela, nem à minha filha. Mas tenho uma missão a cumprir.
- Posso saber que missão é essa, decerto que os teleespectadores estão desejosos de saber qual a sua missão?
- Os telespectadores não estão desejosos de saber, pois eles sabem qual é a minha missão, tu é que pelos vistos esquecestes os ensinamentos de Meu Pai. A minha missão é novamente morrer pelos pecados da humanidade.
- Sabe uma coisa? Acho que você não tem noção da realidade…
- E você têm? Tirou um curso de Direito, em que nunca exerceu nenhuma profissão relacionada com ele e actualmente é pivot de televisão. Presumo que ganha bem na vida pois o A4 que está estacionado lá fora assim o indica. Você vem trabalhar, senta-se confortavelmente numa cadeira e começa a ler o teleponto, fala da Guerra no Iraque, da fome em África, e em algum momento tem a noção dessas realidades? Já passaste fome? Já estiveste em alguma guerra? Tu, Eduardo, nem sequer foste à tropa para saber o que é essa realidade e achas que eu não tenho noção da realidade, apenas por dizer que sou a reencarnação de Jesus Cristo. Se eu acreditasse que era um polícia, ou um bombeiro já era fácil acreditar em mim, não era? Pensa nisto, muitas vezes a verdade não é assim tão simples e linear. O que pode parecer absurdo tem uma verdade oculta.
- Ah…
- Espera, agora quem conduz a entrevista sou eu… Desde quando é que tornastes assim tão hipócrita e céptico, Eduardo?
- Eu…
- Tu não eras assim… Agora só porque o teu director-geral pede-te para me expôr como uma fraude, tu pensas logo que eu sou uma fraude? Lembra-te que houve uma altura em que acreditavas no Meu Pai. Lembras-te de quando partiste o braço? Tinhas o quê, catorze anos? O que tu adoravas aquela menina da tua turma. Para impressioná-la decidiste subir à árvore e caíste.
- Como sabes isso tudo?
- Ainda perguntas… Bem, se não tens mais perguntas para me fazer, acho que a entrevista acabou.
Então levanta-se e caminha em direcção da saída perante o silêncio e a estupefacção de todos os presentes no estúdio.

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Wednesday, November 12, 2003

Proposta Ridícula

Estando desempregado, foi-me sugerido por uma pessoa conhecida que trabalha no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), enviar o meu Curriculum vitae, para o novo Hotel Marriott de cinco estrelas, situado na Praia d’El Rey. Seguiu-se todos os trâmites legais e que são da praxe, como as entrevistas, neste caso precisei de três entrevistas com três pessoas estrangeiras e mais uma com uma portuguesa, que no final me apresentou a referida proposta ridícula.
Isto que vos relato passou-se ontem, não no ano passado, nem na década passada, o que acho importante sublinhar de início. O emprego era o seguinte, empregado do Health Club do Hotel Marriott, em que se tem que fazer o planeamento dos treinos ao nível de Musculação, Cardio-fitness e Natação entre outras actividades, de igual forma foi-me proposto um curso de nadador-salvador, que seria pago pelos representantes do Hotel. A acrescentar a isto tudo, apenas resta dizer que eu tinha de fazer quarenta horas semanais e não existem feriados, sábados ou domingos, sendo todos os dias iguais, por quinhentos e cinquenta euros mensais (550!!!) ilíquidos.
Nem precisei de pensar muito, pois com a despesa de gasolina que iria ter, visto que sempre são setenta quilómetros diários que faria, quase que ia trabalhar de borla.
Mal rejeitei, a senhora ainda teve o descaramento de me mostrar a última página e de dizer que a ia enviar de volta para o IEFP e perguntou se estava a receber subsídio de desemprego. Respondi que não estava e que não aceitava a proposta. A senhora levantou-se, foi ao computador, deu uma vista de olhos e disse que não tinha mais dinheiro para oferecer. Disse que não aceitava e ela respondeu que estando desempregado devia aceitar pois não existiam coordenadores e que dentro de um ano podia ser promovido.
Respondi que não, desejei uma boa tarde e saí. Saí chateado, admito. Mas não pelo facto de continuar desempregado, mas com outras questões como a proposta ridícula feita a um licenciado, pois fui lá três vezes para estes valores irrisórios e segundo porque senti que a referida mulher queria jogar poker, sem ter um par sequer para fazer bluff. Fiquei com a nítida impressão de que esperava que eu aceitasse. Talvez tenham sorte com outro, mas uma coisa é certa, se forem sempre assim não terão um serviço de cinco estrelas, pois os valores que apresentaram para mim no Health Club são os mesmos valores que apresentam, por exemplo, para um empregado de mesa e muitos não o aceitam pois ganham mais do que isso noutros locais.

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Wednesday, November 05, 2003

Bispo Gay


Domingo dia 2 de Novembro, com a presença de quatro mil pessoas, foi finalmente consagrado o primeiro chefe de diocese asssumidamente homossexual, consagração esta que esteve, como era de esperar envolta em polémica. Eu cá, não quero emitir uma opinião pois muitas já foram expressas, deixo antes uma questão: Gene Robinson, o bispo tão falado, foi para o sacerdócio por “Amar a Deus” ou por “AMAR Deus”?

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Sunday, November 02, 2003

Foz do Arelho

Mal ressurgiu o sol e clareou o dia, ao longe já se vê o velho intemporal palmilhando a praia da Foz do Arelho, com o seu inconfundível “Bolo fresquinho”. Ele parece ser parte da praia, dando a sensação de que não existiria esta praia sem ela, pois os seus pés quase que conhecem cada grão de areia existente. As estórias que ele sabe, aquele ser de bata branca, incansável na sua rotina diária. O Verão ainda não começou e ele já voltou à sua velha lide, com os seus pés descalços e calejados.
Quantas bolas de berlim e outros bolos já vendeu? Quantos quilómetros já andou, por este areal que se perde de vista? Quantas vezes teve de se calar e apenas observar, com um ar triste e resignado, as vozes esganiçadas e ridículas de adolescentes ignóbeis e mimadas, incapazes de observar o horizonte fora dos limites dos seus próprios umbigos? Em quantas dunas já repousaste para te libertares do cansaço que teimosamente não queres demonstrar? Como te chamas, aquele que percorre sozinho a praia vendendo bolos? Quantos anos terá? Poucos são aqueles que quereram saber e menos ainda os que se indagarão. Eu não sei, mas questiono. Que estórias me contaria ele? De que sabedoria popular encheria os meus ouvidos por horas intermináveis que passariam como se fossem segundos apenas? Falaria de todas as pessoas desta praia que já lhe compraram os bolos, de que ele nem sabe o nome, mas guarda na memória todos os seus rostos? Contar-me-ia estórias de sereias, os seus sonhos desperdiçados numa juventude rebelde ou apenas o cansaço de alguém simplesmente humano?
Este não é o momento de pensar nisso, estou cansado. Quero sonhar. Conta-me mais estórias.


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