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Wednesday, October 29, 2003

Golo


Depois do aquecimento, os jogadores recolhem aos balneários. È o último jogo do Campeonato e só a vitória interessa para garantir o primeiro lugar. O estádio está completamente lotado num ambiente de festa, que transborda para além dos limites do estádio, pois o encontro é transmitido para todo o País, onde milhões de adeptos esperam ansiosos pelo apito inicial.
Já no balneário, o ponta-de-lança da equipa da casa, telefona para a sua esposa, a saber se ela já se encontra no estádio. A sua mãe telefonou e ela está a acabar de sair da sua casa, ao que chegará atrasada, mas irá. Desliga o telemóvel, nervoso. A sua esposa sempre foi vista como um talismã para ele e o facto de ela não assistir ao desafio de início perturba-o, as suas pernas tremem e a sua mente retêm aquele pensamento, de que a sua mulher chegará atrasada ao desafio.
Tem início o jogo, nas bancadas o público, festivamente, executa a “Hola”, enquanto a equipa da casa começa a “pegar no jogo”, procurando resolvê-lo cedo, pois só a vitória fará deles os novos campeões nacionais. À beira do intervalo, um defesa da equipa adversário comete falta para grande penalidade. O árbitro apita e aponta para a marca de grande penalidade e, em seguida, mostra o cartão amarelo ao defesa. O ruído das bancadas torna-se ensurdecedor. O ponta-de-lança avança para a bola, o guarda-redes move-se para o seu lado direito e a bola é rematada para o seu lado esquerdo, não havia nada a fazer, mas a bola caprichosamente vai ao poste e sai pela linha de fundo, pontapé de baliza que o árbitro não deixa marcar pois estão findos os primeiros quarenta e cinco minutos.
Desiludido, ele volta aos balneários e telefona novamente para a sua esposa. Esta encontra-se neste momento presa num grande engarrafamento e não vê jeito de sair dele tão cedo. O ponta-de-lança promete-lhe então um golo e volta ao campo com essa promessa em mente.
Os minutos vão passando e só à beira do fim do jogo é que o engarrafamento foi ultrapassado e a velocidade normal é retomada. A criança impaciente e sem noção do que se passa, remexe-se e tenta-se livrar do cinto que a mantém imobilizada há demasiado tempo. A mãe diz para ele estar sossegado e vira-se para o ver melhor, esquecendo-se de prestar atenção aos outros carros.
No campo, os minutos passam e a festa começa a dar lugar à impaciência dos adeptos, que começam a assobiar. Nisto, um cruzamento bem medido por parte do extremo-esquerdo, encontra a cabeça do ponta-de-lança, que cabeceia para o fundo das redes adversárias fazendo a festa da vitória.
A mulher, alheia ao que se passa na estrada, tenta prender o filho, nisto, olha e vê que vai chocar com um outro carro à frente e trava a fundo. O filho, liberto do cinto que o prendia à cadeira de bebé, voa e embate contra o vidro do carro, estilhaçando-o, enquanto na rádio, o comentador desportivo grita o golo do progenitor.

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